Friday, February 21, 2014

Normal

Às vezes penso "apetecia-me ter uma vida normal".

Mas o que é isso de "uma vida normal"... não é o que eu já faço?
À medida que vou conhecendo cada vez mais (ou melhor) as pessoas que verdadeiramente sofreram como é que eu me posso queixar de saudades da família e do cão, ou de coisas supérfluas como o trabalho, a dor nas costas, o cansaço físico ou a dor emocional do mundo moderno.
Nem estou a olhar para os acontecimentos de hoje em Kiev, as revoluções na Venezuela, a eterna fome em África, os antigos presos políticos no aqui Brasil, ou um sem-número de outras situações reais que nos fazem sentir pequenos. 
Estou, egoísta tímida, a pensar apenas nos meus amigos próximos que me rodeiam sem se queixar dos seus segredos profundos que tenho vindo a desvendar. A morte lenta por uma doença terminal da pessoa mais próxima, o aborto solitário sem ninguém para escutar e sem ninguém com quem contar, as traições fortes que insistem em manter e as doenças incuráveis que socialmente nos isolam, penso nos que mataram sem escrúpulos e nos que foram torturados e escravizados em fábricas sem conceito de tempo. Penso que são as pessoas que mais me preenchem e me rodeiam num quotidiano normal. Sinto-me pequena perante o vosso sofrimento.

O que eu quero é ser ignorante do Mundo.

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